domingo, 7 de dezembro de 2008

Corredor...



Fim de tarde, pôr-do-sol, sentimentos. Ele acabara de levantar da cama e decidiu fazer seu exercício matinal rotineiro, que neste momento se tornava diurno. Dia cansativo, trabalho, estudo e dúvidas.

Havia recebido uma função acima de seu potencial e sem saber como se portar nesta situação se pôs diante do problema com os braços cruzados e pernas enlaçadas, demonstrando uma falta de interesse em se abrir para esse novo conhecimento. A verdade é que já estava pedindo as contas, não agüentava mais as falsas obrigações e as cobranças indevidas. Quando resolvem lhe dar algum valor e credibilidade, seu potencial está esgotado.

Resolve voltar para sua casa e continuar com seus estudos. Tese de doutorado perfeita, com argumentos e estudos realizados de forma tão minuciosa que parecia algo inexplicável e inaceitável para aquele rapaz tão, aparentemente, despreparado e sem motivação. Realizado por dentro, mas sem demonstração de seu auto-orgulho. Os olheiros acreditavam e passavam a informação, ele não tem mais jeito, está sobre seu próprio céu, nas nuvens, perdido de seus passos, frases que achavam simplificar o que se passava na vida daquele homem.

Continuava a passar seus dias trabalhando em cada detalhe de sua tese, mais agora que estava desempregado. Sorte ter juntado algum valor proveniente de economias e negações de convites de poucos amigos que restavam para curtir uma balada ou tentar encontrar um relacionamento que pudesse dar um rumo a sua vida tão rotineira e sem sentimentos, considerada assim pelo próprio.

Por vezes tentou se relacionar com mulheres realmente encantadoras, dignas de uma vida impecável. Nunca conseguiu passar de um relacionamento de três semanas. Sentia-se forçado à sentimentos irreais em seu coração. As magoava, as fazia entender, ou até mesmo sumia, sem rastro e sem explicações.

Aos passos em um longo caminho de terra que costumava fazer sua corrida, estava ajeitando seu aparelho de som para que pudesse iniciar a corrida ouvindo suas preferidas músicas clássicas, seu gosto era refinado, tinha este ouvido para música de se arrepiar, chegou a definir Mozart com apenas algumas tentativas de dedilhados no piano preto e comprido que se destacava em sua sala larga e com pouca mobília. Voltando ao momento da corrida, olhando para o eletrônico, se recolocou na postura com os olhos ao horizonte para observar seu caminho à frente. Via de longe uma figura que chamava sua atenção, afinal, era o único, por anos, que se dispunha a ir aquele lugar para por em prática seus exercícios físicos e principalmente recolocar os pensamentos em ordem, binária, mas em ordem. A figura se aproximava, de modo que ele não ousava desviar o olhar, seu desejo em observar todos os detalhes daquele intruso era inexplicável. Viu um corpo fascinante com movimentos cautelosos e firmes, como se já conhecesse o chão onde pisava e realizava atrito, para que a corrida fosse o quanto mais relevante. Observou seu corpo de maneira que jamais esqueceria como definí-lo, pernas, quadris, cintura, busto, face... Mas seu real fascínio foi ao aproximar seus olhares. Olhos azuis, profundos, iluminados, concentrados, mas por algum motivo, ainda não entendido pelo homem, olhar de alívio em vê-lo. A mulher parou, perguntou se sabia onde ele estava e se poderia responder a uma pergunta. Sua resposta foi simples.

-- Se quiser respostas vá com calma, afinal já está na terceira pergunta, posso acabar me confundindo.

Um sorriso surgiu naquele olhar oceânico. Ela estava totalmente perdida. Sem saber como sair da estrada. Havia começado seu percurso por um caminho um pouco diferente e ao retornar desviou da estrada correta. Sem mais demora ele encaminhou a beleza daquela mulher de volta a sua rota, claro, não deixando de conversar e demonstrar um pouco de interesse. Ela havia chegado à cidade há pouco tempo. Não tinha amigos e assim ele aproveitou a oportunidade para convidá-la para um passeio. Dali os encontros se tornaram freqüentes e um relacionamento estava criando laços fortes. Seus sentimentos pela bela aumentavam e quando um mês se completava desde seu encontro, ele não sabia o que fazer.

Com medo deu a desculpa que deveria viajar. Sumiu por duas semanas até não resistir mais aos apelos de sua própria consciência. Ele já implorava por explicações do que sentia sem entender aonde chegaria àquela situação. Foi claro com ela, demonstrou confiança e pediu auxílio. Ela foi solícita, disse que enfrentaria isso com ele, afinal estava apaixonada pelo homem sem sentimentos.

Fim de tarde, pôr-do-sol, sentimentos. Ele acabara de levantar da cama e decidiu fazer seu exercício matinal rotineiro, que neste momento se tornava diurno. Dia cansativo...

Apaixonado, acabara de chegar de viajem com a mulher e seus dois filhos. Passou a noite terminando um relatório que deveria ser entregue na manhã seguinte. Deu um beijo na mulher como fazia todos os dias ao acordar, fez carinho na nuca dos filhos como já de costume, chegou à porta pronto para corrida e disse: EU TE AMO.

Palavras que aprendeu com dificuldade, mas preencheram um espaço vazio em seu coração tão antes amargurado. Com um sorriso no rosto de causar inveja se pôs a percorrer a estrada. Com lembranças, sentimentos e desejos maiores. DESEJOS INTERMINÁVEIS.




"Um ano se passou e os pensamentos estão fluindo. Uma mente cheia de planos e desejos. Um coração cheio de sentimentos e razões."

7 comentários:

Laila disse...

Não fale em ordens binárias.
rsrsrss

Gostei do conto. Adoro quando repete o início no meio ou no fim do texto: dá uma sensação de conhecimento, de ciclo.

Anônimo disse...

Marketeiro ou escritor. Escolheu a profissão certa?

Duan disse...

Com certeza publicitário. É como um hobbie. Só gosto de escrever sem compromisso... acho que serve muito bem como um tipo de terapia.

Até mesmo porque nem tenho tanto talento assim para escritor. ¬¬

rs

BJus e ABraços.

Anônimo disse...

A fase adulta chegava aos poucos. O semblante, que só revelava a adolescência, dava os primeiros sinais de maturidade. As palavras, vociferadas ou escritas, revelavam a inteligência positiva ou negativa da reflexão. Uma pitada de sofrimento, escondida ou ignorada durante a vida jovem, era liberada agora, homeopaticamente. Mas, sabia que as angústias deviam ser substituídas e não acumuladas. Apesar de muito jovem, sabia que esse era o antídoto. Sabia das diferenças entre as vidas meramente expectada e firmemente projetada. E também sabia que a melhor das vidas era a da mais pura inocência, a vida dos romances, a vida nem sequer suspeitada. Era a vida sem a preocupação. A vida que acontecia. Que só acontecia.

Anônimo disse...

Pensei nisso esse fds...
"mente cheia de planos"
Preciso de planos!
TENHO DOIS PLANOS EXTREMAMENTE DEFINIDOS.

Texto requintadíssimo!
ESPERANÇOSO!
bjs
te amo

Marcelli disse...

esssstou mt orgulhosa...! parabens!

Silvinha disse...

Esse "menino" tem talento...vai longe...ou melhor, tá indo!!!
Doçura, sensível, inocnte, aborrecência indo...vida adulta que segue...dores, sorrisos, descobertas, vida que não volta, relógio que não para...vai que é tua DUALINTOOOOOOOOOOOOO

BJS da titia Silvia!!! hahahaha